15 fevereiro, 2006

Que John Wayne que nada!!


Desde que o mundo é mundo a homossexualidade existe. Desde da Grécia antiga há registros, e são vários, de comportamentos em padrões de normalidade. Infelizmente, na cultura contemporânea a homossexualidade tem sido, até então, a marca de um estigma. Sempre sendo tratado com uma certa marginalização àqueles que não possuem preferências sexuais de acordo com determinados padrões da moralidade. Como se isso pudesse ser controlado e colocado dentro de um “padrão normal”. Mas afinal, por que isso incomoda tanto as pessoas? Na Inglaterra, até há pouco tempo tal preferência sexual era considerada crime. E o interessante e positivo é que hoje a Inglaterra é um dos primeiros países que legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Por que identificar socialmente as pessoas por suas preferências sexuais? Por que nos interessamos tanto pela preferência sexual das pessoas, a ponto de julgarmos muito importante identifica-las sociomoralmente por este predicado? O interessante é ter consciência disso, e tentar de uma forma inteligente, possivelmente pela cultura, modificar a visão das pessoas sobre essa temática. Embora a cultura norte-americana insista em provar que o homossexualismo seja uma doença, as sociedades mais avançadas culturalmente têm que derrubar essa tese através da melhor forma possível.

E eu acredito que esta forma esteja presente na melhor arma contra a discriminação: a ironia, o sarcasmo, a crítica, o descrédito, a surpresa e o desprezo por tudo aquilo que lhe dá suporte. E o principal, o tratamento igualitário, a vida cotidiana, o simples e velho costume. Enquanto, os homossexuais sentirem que têm algo a provar, nada conseguirão. Ou mesmo tentarem a todo custo uma demonstração de superioridade inexistente, já que no final das contas o que eles querem é sentirem inclusos e iguais, sem terem que ser taxados disso ou daquilo.

E Ang Lee, em “O Segredo de Brokeback Mountain”, acerta quando trata a história numa ótica de amor proibido, e não de uma forma esquemática, ou publicitária. Entre eles, a única coisa que importa é a vontade de estarem juntos, o amor que sentem um pelo outro e a dor de não poderem viver este amor como gostariam. Por que este amor é reprovável?

É aí que o roteiro, adaptado do conto de E. Annie Proulx, é formidável. Esse amor é reprovável porque Ennis e Jack e vivem em pleno centurião bíblico norte-americano e são nada mais nada menos que cowboys. Figura mais masculina impossível. São então contratados para cuidar de um rebanho de ovelhas na tal Brokeback Mountain. Com isso, começam a se conhecerem melhor, lamentarem as suas vidas e vão assim criando laços, mesmo que quase imperceptíveis. Ang Lee juntamente com seus roteiristas, toma um caminho muito acertado, a figura masculina não é quebrada. O filme destigmatiza essa idéia de gays = mulheres. Ambos brigam como homens, trabalham como homens, bebem como homens e fazem sexo como homens. A escolha sexual nada tem a ver com seus comportamentos. Essa foi a primeira genialidade da película.

O outro ponto positivo reside na delicadeza e sutileza que o relacionamento é mostrado de acordo como o tempo vai passando. Depois da 1° experiência na montanha, o espectador só percebe que ambos continuam se comunicando, quando Ennis ao receber um postal ler que Jack recebeu sua carta e que está chegando. Que por sinal, outro momento formidável é esse reencontro, que nada beira o clichê e demonstra a intensidade do relacionamento.

As atuações são absolutamente impecáveis. Jack Gyllenhaal, nada parece com o deprimente Donnie Darko. A sua paixão por Ennis e a vontade de encarar a sociedade, de declarar o seu amor é evidente. Já Heath Ledger, sempre mais calado, aposta num Ennis completamente cowboy. Quase não abre a boca, possui um sotaque bem mais acentuado, e diferente de Jack Twist (personagem de Jack Gyllenhaal), não consegue encarar e se libertar dessa sociedade discriminatória. Eu, particularmente tive uma simpatia a mais pelo personagem do Jack Gyllenhaal, mas sabendo que o Ennis é um personagem extramemente mais difícil, mais introspectivo, e mais incisivo e representativo, Heath surpreende todo mundo, não criando uma atmosfera tão dramática, deixando o personagem muito mais real.

Outra abordagem muito discutida pelos espectadores e críticos é a idéia que, enquanto Jack é obviamente gay, Ennis não possui elementos que o classificam como sendo homossexual. Claro que isso depende do seu conceito de homossexualidade. Se o simples contato sexual com pessoas do mesmo sexo é ser gay, tudo bem. Mas se for o fato de sentir atração por pessoas do mesmo sexo, Ennis não é homossexual. Enquanto Jack que possui outros relacionamentos, chega até a procurar casas de prostituição, Ennis só possui atração por Jack, e não se envolve com mais ninguém. O amor de Ennis por Jack independe do sexo. Homem ou mulher, o amor existiria.

Ang Lee faz um favor a essa sociedade mendiga, que precisa urgentemente ser feliz, mas faz de tudo para passar a perna em si mesmo. Essa obra prima merece todos os prêmios que conseguir, mas quem sairá ganhando mesmo, seremos nós.

por Rick Monteiro (rick_monteiro@yahoo.com.br)


Ps: A montagem é simplesmente formidável, as transições são belíssimas e representativas. E a fotografia aposta numa claridade que faz pensar que nada eles tem o que esconder.

07 fevereiro, 2006

Eu juro dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade.

É interessante como todos se acham sinceros e buscam sinceridade, procuram por pessoas sinceras, odeiam falsidade... e tudo mais. Basta observar nos programas do estilo “namoro ou amizade” da TV que o quesito “ser sincero” está mais presente nas exigências do que uma opção sexual compatível.

Mas, na verdade, a verdade é algo bastante complicado a difícil. Não é tao longe o ponto até o qual estamos prontos e dispostos a oferecê-la e recebê-la.

A verdade é ditadora. Imutável, ao contrário da impressão. Única.. costuma-se falar em “minhas verdades”, o que na verdade são certezas. Certeza é apenas um estado de espírito que nada tem a ver com a verdade e muito menos com você estar certo.

Imagino a mesma garotinha que odeia gente falsa ouvindo “Sim, meu amor... hoje eu gosto de você, mas é verdade... no início me aproximei de você porque estava atraído por aquela sua melhor amiga”. Ela possivelmente deixaria de ter a certeza de que ele a ama, o que é verdade. É uma verdade mudando a certeza que ela tinha sobre algo que é a verdade.

A verdade desagradável desperta sentimentos para os quais nem todos estão preparados. Pode revelar sobre os outros o que não gostaríamos que fosse verdade, e como não podemos mudar a realidade, fazemos o máximo que podemos, que é preferir não saber. Pode revelar sobre nós mesmos... quando recebemos uma crítica, podemos não dar a mínima... até que ela se torna ameaçadora, e quanto mais próxima for da verdade ela se torna mais ameaçadora e é aí que nos pegamos justificando, nos defendendo, criando lógicas para mudar a impressão que os outros terão do que não é nada mais que... a verdade. Pode nos atingir como um tiro.

Do outro lado, dizer a verdade é como disparar o tiro. Apenas 2% das pessoas mesmo numa situação de a queima roupa não exitam e atiram. Entre a decisão de atirar e o disparo você leva 0,25 segundos... mais ou menos o tempo entre abrir a boca e começar a falar... menos da metade do tempo de uma lágrima cair.

Então a alternativa de mentir nesse caso seria servir uma dose de scotch 12 anos envenenada. Você ganha a confiança daquele que a aceita, ele a apreciará.. talvez se embreagará, e em um tempo morrerá sem dor e pode nunca vir a saber a causa... além de que, eu particularmente conheço muitas (muitas!) pessoas que se pudessem escolher como morrer seria ao gosto de um Black Lable.
por Felipe "Baiano" Batista (felipe.batista@gmail.com)