07 fevereiro, 2006

Eu juro dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade.

É interessante como todos se acham sinceros e buscam sinceridade, procuram por pessoas sinceras, odeiam falsidade... e tudo mais. Basta observar nos programas do estilo “namoro ou amizade” da TV que o quesito “ser sincero” está mais presente nas exigências do que uma opção sexual compatível.

Mas, na verdade, a verdade é algo bastante complicado a difícil. Não é tao longe o ponto até o qual estamos prontos e dispostos a oferecê-la e recebê-la.

A verdade é ditadora. Imutável, ao contrário da impressão. Única.. costuma-se falar em “minhas verdades”, o que na verdade são certezas. Certeza é apenas um estado de espírito que nada tem a ver com a verdade e muito menos com você estar certo.

Imagino a mesma garotinha que odeia gente falsa ouvindo “Sim, meu amor... hoje eu gosto de você, mas é verdade... no início me aproximei de você porque estava atraído por aquela sua melhor amiga”. Ela possivelmente deixaria de ter a certeza de que ele a ama, o que é verdade. É uma verdade mudando a certeza que ela tinha sobre algo que é a verdade.

A verdade desagradável desperta sentimentos para os quais nem todos estão preparados. Pode revelar sobre os outros o que não gostaríamos que fosse verdade, e como não podemos mudar a realidade, fazemos o máximo que podemos, que é preferir não saber. Pode revelar sobre nós mesmos... quando recebemos uma crítica, podemos não dar a mínima... até que ela se torna ameaçadora, e quanto mais próxima for da verdade ela se torna mais ameaçadora e é aí que nos pegamos justificando, nos defendendo, criando lógicas para mudar a impressão que os outros terão do que não é nada mais que... a verdade. Pode nos atingir como um tiro.

Do outro lado, dizer a verdade é como disparar o tiro. Apenas 2% das pessoas mesmo numa situação de a queima roupa não exitam e atiram. Entre a decisão de atirar e o disparo você leva 0,25 segundos... mais ou menos o tempo entre abrir a boca e começar a falar... menos da metade do tempo de uma lágrima cair.

Então a alternativa de mentir nesse caso seria servir uma dose de scotch 12 anos envenenada. Você ganha a confiança daquele que a aceita, ele a apreciará.. talvez se embreagará, e em um tempo morrerá sem dor e pode nunca vir a saber a causa... além de que, eu particularmente conheço muitas (muitas!) pessoas que se pudessem escolher como morrer seria ao gosto de um Black Lable.
por Felipe "Baiano" Batista (felipe.batista@gmail.com)

6 Comments:

At 1:20 AM, Anonymous Anônimo said...

Assim que acabei de ler esse texto, me lembre de "Closer" onde nesse filme, vocês vão ver que nem sempre vale à pena ouvir a verdade. Na verdade, ela pode se tornar a última coisa que você queria ouvir.

 
At 2:33 PM, Anonymous Anônimo said...

Verdade...como explicá-la? creio eu q sem explicações...por muitas vezes só ouvimos e acreditamos naquilo q queremos,bem como só falamos o q o outro quer ouvir.Prometer sinceridade,lealdade num exato momento de sua vida comprometem o "dizer somente a verdade". Pq falar a verdade se mentindo (ou omitindo)muitas vezes é o caminho mais fácil e menos doloroso? Claro,existem momentos q a verdade torná-se crucial e não há outra saída. Mas quer saber, odeio verdades mentirosas.....

 
At 1:57 PM, Blogger Alex de Large said...

Lembraram perfeitamente de Closer. Essa tal VERDADE, HONESTIDADE, que tantos pregam eh puro egoismo. Vc descarrega a tal verdade, e dps vai durmir tranquilo como se o seu trabalho jah tivesse sido feito enquanto a pessoa tah magoado por um comentario que na maioria das vezes poderia nao ter sido dito. Jah dizia o mestre Ariano Suassuna. Por que falar na frente da pessoa e constrange-la se vc pode falar por trás?!

No final das contas eh tudo culpa dessa onda do "politicamente correto". Que por sinal, essa praga merece uma explanacao no CAFEZINHO...

 
At 9:17 PM, Anonymous Anônimo said...

Por isso que eu só falo por trás.

 
At 1:34 PM, Anonymous Anônimo said...

Lendo esse texto lembrei de um trecho de Qnd Nietzsche chorou, que fala sobre verdade e escolhas. Fui no livro procurar onde tava......

"- Tal fervor pela verdade! Perdoe-me se sôo desafiador, mas concordamos em falar a verdade. O senhor fala sobre a verdade em um tom sagrado. Permita-me perguntar: por que tal paixão, tal reverência pela verdade? Em que ela beneficiará meu paciente desta manhã?
- Não é a verdade que é sagrada, mas a procura de nossa própria verdade. Haverá ato mais sagrado do que a auto-inquirição? Minha obra filosófica, dizem alguns, está erigida sobre areia: meus pontos de vista mudam constantemente. Mas uma de minhas sentenças de granito é: “Tornar-te quem tu és”. E como descobrir quem e o que se é sem a verdade?
- A verdade é que meu paciente tem apenas pouco tempo de vida. Devo oferecer-lhe esse autoconhecimento? Será meu dever impor aos outros uma verdade que não desejam conhecer?
- Quem poderá determinar o que alguém não deseja conhecer? A verdadeira escolha, a escolha plena, só pode florescer sob o clarão da verdade. Como poderia ser de outra forma?
- Meu paciente desta manhã, qual é a sua gama de escolhas? Ele só tem dias ou semanas de vida, que sentido faz falar de escolhas com ele?
- Se ele não sabe que está prestes a morrer, como pode seu paciente tomar uma decisão sobre como morrer? Ele tem que decidir como encarar a morte: conversar com os outros, dar conselhos, dizer as coisas que guardou para dizer antes da morte, despedir-se dos outros, ou ficar sozinho, chorar, desafiar a morte, amaldiçoá-la, ficar grato a ela. Cada pessoa é dona de sua própria morte. E cada uma deveria encará-la conforme lhe aprouvesse. Talvez, apenas talvez, tenhamos algum direito de tirar a vida de um homem. Mas não temos nenhum direito de lhe tomar a morte. Isso não é conforto e, sim, crueldade".



pois eh.. por mais desagradável e difícil que seja, ainda acho que devemos oferecer às pessoas verdade. Do contrário, estaremos tirando delas um direito de escolha.
Mas enfim... neste mesmo livro, mais pra frente, tb tá escrito: "Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar". É outra escolha.
É, esse negócio de verdade dá muito pano pra manga. Gostei mt do texto ;)

 
At 8:44 AM, Anonymous Anônimo said...

ser sincero nao quer dizer necessáriamente que só se dirá a verdade. A vida em sociedade nos imputa certas conveniências que nos fazem certamente dizer mentiras. A televisão mostra exemplos de como seria uma pessoa totalmente sincera, que é o quadro do fantastico com Luis Fernado Guimaraes em que ele passa ou faz as pessoas passarem por situações vexatórias por ter uma sinceridade cáustica. O fato de omitir fatos e opiniões é usado por nós para nos defender daqueles que ainda nao conhecemos, mas nao conseguimos esconder muita coisa pois os olhos, gestos, opiniões, expressão facial etc, dizem muita coisa sobre voce que voce nao gostaria de dizer.
Para mim a questao da sinceridade nao remete necessariamente a dizer ou nao a sua verdadeira opinião e sim de ser honesto consigo. Explicando, quando nao digo a verdade a alguem pode ser por dois motivos, um por nao ter confiaça para ser transparente com aquela pessoa ou dois, por eu ser um calhorda e quero enganar aquela pessoa que depositou confiança em mim. Portanto, ser sincero com os outros remete que sejamos sinceros com nos mesmos.

 

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