05 dezembro, 2006

"O Túnel", Amor a Primeira Página

Pense que você pode representar seus sentimentos, seus anseios, seus defeitos e qualidades, tua vida em um objeto, em um símbolo. Mas como fazer, ou melhor como saber fazer?! Acredito que só os artistas o conseguem, pois possuem esta sensibilidade. Juan Pablo Castel conseguiu e teve a sorte de que uma grande mulher, María Iribarne, conseguisse enxergar e sentir o mesmo quando viu este símbolo. A trama de "O Túnel" de Ernesto de Sábato vai se desenvolver a partir deste fato e das conseqüências que a revelação deste ícone tiveram para ela e para ele.
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Castel é pintor e avistou sua amada numa exposição dele em frente a um quadro chamado maternidade, em que no primeiro plano uma mulher olhava uma criança brincando e no canto esquerdo, no segundo plano, o elo entre os dois. Uma janela dava para um a mulher sentada na praia olhando para o mar, o que isso representa para ela, uma lembrança de um local idílico, para ele a paz que ele sempre quis, mas o que ligou os dois não foi essa analogia pobre e direta foi a revelação intuitiva de um segredo entre eles e que estava presente no quadro.
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O livro se inicia com a surpreendente revelação que Castel matou sua amada e cúmplice em seu segredo. Essa revelação é chocante, mas nos antecipa que não será um livro imbecil que iremos ler (tem uma forma de novela; com poucos personagens, de trama concentrada nos personagens principais, de narrativa curta e linear). Sabato nos bota diante de um crime passional e intrigante, que nos revelará até que ponto um amor verdadeiro em confronto com os nossos valores e costumes pode ir.
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Este embate entre o sentimento livre e as convenções sociais é desenvolvido de forma primorosa pelo autor que descasca e expõe o que representa o verdadeiro “cabron” latino, potencializado por uma alma de artista e uma mulher simplesmente bela atrofiada pela amarras da sociedade, mas tendo em sua alma a libertação. Ele quer unir seu sentimento livre ao amor das convenções socias, ela, viver um sonho real com indiferença e condescendência com o resto.
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A vida de cada um é um túnel transparente cheio de bifurcações e que formam encruzilhadas onde os mesmos se entrelaçam, produzindo felizes encontros ou misturas explosivas. A pergunta deixada por Sabato é se somos capazes de abandonar nossas convicções, valores, preconceitos e viver um profundo e leve amor. A resposta! Não sei, digam-me!
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por Felipe "Baiano" Nogueira

2 Comments:

At 10:39 PM, Anonymous Anônimo said...

Bandeira responde

A estrela da manhã

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noite
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por toda a parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.

 
At 11:18 AM, Blogger Alex de Large said...

Ah, O tunel!! cada palavra dita por Sabato nesse livro possui algum valor, alguma representacao interessante (como a opiniao de Castel sobre os criticos). O texto conseguiu passar a essencia desse maravilhoso livro, indo a fundo nesse contexto do "cabron" (bora vicente!!) que Sabato tenta passar e que eu nao identifiquei de imediato como elemento da narrativa, que apos conversas com o baiano concordei. Espero que mais pessoas tenham o contato com esse autor maravilhoso.

Rick

 

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