29 março, 2007

O menino brilhante e os trabalhadores do mar

Vitor Hugo é considerado o maior poeta francês, Chateaubriand o chamava de o menino brilhante, mas, é através de sua prosa que ele é mais conhecido. Obras como “Notre-Dame de Paris”, “Os Miseráveis” e “Os Trabalhadores do Mar” tornaram-no mundialmente conhecido e imortal.
..
Hauteville-house, no prefacio do livro, diz que pesa sobre nós a fatalidade dos dogmas e a necessidade de religião, a fatalidade das leis e a necessidade de sociedade, a fatalidade das coisas e a necessidade da natureza e se junta a elas a fatalidade do coração, a maior de todas as fatalidades. Os Trabalhadores do Mar nos mostra a terceira fatalidade junto com a última.
..
O livro inicia-se com uma passagem bucólica na praia em que caminha um homem e uma mulher, ele a cem metros de distância dela. Eles se Conhecem de vista e ela escreve o nome dele na areia, GILLIAT. Essa pequena e pueril atitude é o gatilho q vai disparar toda a narrativa. Depois deste dia Gilliat começa a pensar nela todos os dias e a cada dia mais e mais vezes. O tio dela, Mess Lithierry trabalha com transporte marítimo e adquiriu um barco a vapor chamado Durante, a embarcação após um acidente fica naufragada em meio a rochas e corais em alto mar. Gillliat, após ouvir da boca de Deruchette que se casa com o homem q trouxer o barco de volta, parte para está epopéia com a esperança de conseguir restaurar o barco e ter o amor de sua vida.O livro explora esses dois desafios de Gilliat, a tarefa quase impossível de restaurar um barco em pleno mar aberto e o de se casar com a mulher q ama e que mal o conhece. Ele impulsiona-se com determinação e confiança de que sairá vencedor.
.
No desenvolver da narrativa que Vitor Hugo mostra as fatalidades a que todos nós estamos sujeitos. Ao chegar ao local do naufrágio Gilliat depara-se com as idiossincrasias do mar; tempestades, animais marinhos, rochedos que atrapalham sua empreitada, como também; bom tempo, peixes, ferramentas naturais que facilitam seu trabalho. É a demonstração que todos nós somos reféns do temperamento oscilante da natureza e que de um lado a usamos como déspotas e de outro estamos subordinados totalmente à vontade dela. Além desta situação de Giliat o livro é permeado de grandes descrições do mar da mancha e da vida dos marinheiros e cidadãos litorâneos que dependem totalmente do que o mar lhes dá. Essas descrições mostram com brilhantismo a beleza da paisagem e tipos que provocam deleite.
.
A maior fatalidade de todas, o amor, se mostra devastadora neste romance. Após Gilliat ter consertado heroicamente o barco, retorna com todas as esperanças para finalmente ter nos braços sua amada. Só que quando foi ao seu encontro, espiando-a de longe, a presenciou junto a outro e ambos fazendo juras de amor. Em contrapartida, o tio de Deruchette ao ver seu barco atracado vai ao encontro de Gilliat e praticamente o obriga a aceitar se casar com ela, ele em um ato total de desprendimento ajuda os dois amantes a fugir e os observa, sobre uma pedra, a se distanciar da costa em um navio. Enquanto isso, a maré subia e quando o barco já está praticamente se confundindo com o horizonte a maré o encobre.
.
O estilo de V.H. é caracterizado por manter elementos típicos da narrativa romântica tais como; mulher idealizada, herói virtuosos, final geralmente trágico da trama que resulta ou em suicídio ou assassínio e amor idealizado como também permeia seus livros com denúncias sociais, culturais e políticas. Percebe-se pela mostra do trabalho sofrido dos personagens, pelas maracutaias envolvendo o comércio marítimo e arcaísmos e misticismos da população.
.
Foi com muita emoção que li este livro. Proporcionou-me está em contato com sentimentos e perspectivas sobre a vida que a muito foram esquecidos por nossa sociedade. A forma de escrever de V.H. nos estimula de forma maravilhosa a penetrar na história, nos faz sentir na pele a gama de sensações provocadas pela caracterização e desenvolvimento dos personagens. È uma história que fica entre prosa e poesia e que nos faz pensar que podemos ter a sensação do que é o belo.
.
por Felipe "Baiano" Nogueira