07 abril, 2006

Entrevista com Gus Monsanto

A banda francesa de heavy metal progressivo Adagio, um dos maiores nomes do mundo no estilo, está lançando seu terceiro álbum de estúdio chamado "Dominate", uma das novidades é o vocalista brasileiro Gustavo Monsanto. E é com imenso prazer que o Cafezinho com Cigarro conta aqui com sua participação mais que especial em entrevista exclusiva a Felipe "Baiano" Batista.

Antes de mais nada gostaria de agradecer pela participação, está sendo pessoalmente gratificante realizar essa entrevista.
Esse é seu primeiro álbum com o Adagio. Você considera que foi por acaso sua entrada na banda?
Valeu, Felipe, pela força... Minha entrada no Adagio se deu de uma maneira realmente inseperada. Eu tinha acabado de terminar um trabalho de dois anos com uma banda chamada Astra, que não atingiu a repercussão esperada, por problemas internos e problemas com a gravadora, e isso realmente me afetou imensamente, a ponto de me fazer repensar o desejo de continuar a fazer música ou tomar outro rumo profissional na vida. E quando o meu amigo Gilberto, do Ytse Jam BR, o fã clube do Dream Theater, viu o anúncio do Adagio, que havia se separado do David Readman, ele me encaminhou. Num primeiro instante, pensei em se tratar de uma armação, “ah, essas coisas da internet, figurinhas marcadas, eu sou brasileiro, etc, tudo é difícil”; Mas, mandei duas fotos, release e dois MP3 do meu trabalho anteiror. Permaneci conectado e quinze minutos depois, tive uma resposta do management da banda, afirmando ter gostado do material, mas como ele é diferente do som que o Adagio faz, gostariam de me ouvir cantando material da banda. Mandaram duas músicas do disco anterior a minha entrada, “Underworld”, eu as aprendi em um dia, as gravei no dia seguinte e mandei os MP3 na hora em que cheguei do estúdio, indo pra cama em seguida. Quando acordei, devido ao fuso-horário diferente entre Brasil e França, ja havia na minha caixa de e-mails o convite para me integrar à banda. Vinte dias depois, estava de malas prontas para a França e outros vinte dias depois, estava nos Estados Unidos, me apresentando no Prog Power, um dos maiores festivais de heavy metal do mundo, com bandas como Edguy, Pain of Salvation e Savatage.
Esse trabalho é um tanto diferente dos seus anteriores. Você já possuía influências dentro do progressivo? Quais as principais?
Sempre gostei muito de rock progressivo e metal progressivo, apesar de nunca ter cantado em uma banda dentro deste estilo, apesar de certamente haver certas influências dentro de meus trabalhos anteriores, em alguma forma. Mas, para citar nomes, adoro Kansas, Yes, Spock’s Beard, dentro do metal progressivo, Dream Theater, é claro.
O Adagio exige mais de você vocalmente do que suas bandas anteriores, por ter uma característica mais técnica?
Sem dúvida. É uma música com nuances diferentes que exigem uma técnica super apurada. Não que meus trabalhos anteriores não me exigissem técnica, mas o patamar e a cobrança são outros neste momento. Outra coisa muito interessante sobre a minha atuação em “Dominate” ao meu ver, é a interpretação bem teatral das letras, que tem coisas bem sombrias que remetem a contos de Lovecraft e coisas do tipo. Por exemplo, em “Children of The Dead Lake”, o narrador da história é um menino que tem visões, e você tem que encarnar o personagem para convencer o ouvinte.
O “Dominate” apresenta temas místicos, sombrios, com elementos mitológicos. O disco possui um conceito principal?
A princípio, a gente conversou muito sobre Lovecraft e seus contos, alusões a Kthulu, monstros, etc. Mas o disco acabou não tendo um fio, não é um trabalho conceitual, apesar de certas músicas citarem personagens, como Yun sodoth, em “Dominate”.
Quais foram as primeiras reações do público e da crítica sobre o álbum? Ele vem com algumas mudanças, por exemplo, eu achei que começa bem melódico com “Fire Forever”, mas mantém a essência da música da banda e quem disse que é um disco simples está muito enganado. Fale também sobre essas mudanças.
A maioria tem sido super positiva. Tem sempre os cri-cris de plantão que vão preferir o último disco, ou a outra formação, mas sempre será impossível agradar a todos, nem Jesus conseguiu! Ao MEU ver, esse é o melhor disco da banda, pois ele é mais direto, tem menos orquestrações e é mais pesado e sombrio, APESAR de manter todos os elementos do som do Adagio intactos. Acho que o disco está longe de ser simples, ele só é direto... E “Fire Forever”, que muitos fãs compararam a bandas como Rhapsody e Hammerfall, Stratovarius, é uma musica heavy metal tradicional, mas muito mais influenciada por coisas dos anos 70 e 80, como Judas Priest e Loudness. Isso é a minha opinião pessoal, novamente...
Outra novidade do “Dominate” é o guitarrista Stéphan Forté estar fazendo vocais guturais. Você entende alguma coisa dessa técnica? Imagino que seja em algo similar ao drive, que já acho difícil de se fazer.
O Stéphan, antes do Adagio, cantou e tocou guitarra em bandas de metal extremo, que é uma paixão dele. Eu canto de maneira agressiva no CD, mas as vozes extremas quem faz é ele, e não tenho o menor interesse de enveredar por este estilo, apesar de adorar bandas como Carcass e Death.
Esta é uma pergunta que já deve ter sido muito feita. De quem e de onde veio a idéia de regravar “Fame” de Irena Cara, uma música inclusive que já teve uma versão por Sandra de Sá?
O Adagio tem fortes influências de música erudita, de música neoclássica. Um dia, eu e o Stéphan estávamos conversando sobre a idéia de gravarmos uma cover, e ele sugeriu essa música, por ter uma melodia bem neoclássica no verso. Eu achei a princípio impossível de adaptá-la pro universo do Adagio, mas acho que o Stéphan tinha razão e acabou cabendo. É interessante ver a resposta das pesosas, ou amam, ou odeiam, mas o objetivo era esse mesmo.
Eu li que o clipe da música faixa-título do CD estava para ser gravado no início de março. Já está pronto? Como é esse clipe?
A gravação do clipe acabou sendo adiada por problemas de logística. Entretanto, várias imagens têm sido gravadas, e estamos compilando material para trabalharmos em vídeo.
Quando uma banda de grande porte troca algum integrante normalmente há as insistentes comparações, principalmente quando se trata do vocalista. No mundo do heavy metal temos um famoso caso brasileiro que eu nem preciso comentar. Você sofreu muitas cobranças e comparações com David Readman? O público francês e europeu em geral é diferente do brasileiro nesse sentido?
É sempre difícil, pois o público compara MESMO. O público europeu, francês e brasileiro tem pontos em comum: todos são muito apaixonados e exigentes. David Readman era um dos meus vocalistas favoritos de heavy metal dos últimos tempos, conhecia bem mais o seu próprio trabalho até do que o do Adagio, em sua outra banda, Pink Cream 69. As cobranças e comparações são bastante grandes, e eu tenho em mente somente que devo fazer meu melhor, por saber do meu valor e esperar que as pessoas curtam o meu trabalho, pois ele é feito com muito amor.
Você, com o Adagio, já passou por EUA, Suíça, Holanda e nessa nova turnê já estiveram na Tunísia. Onde você está agora e por onde ainda passarão?
Estou em Paris, trabalhando na promoção de “Dominate” por aqui, pois ele saiu aqui no dia 27 de Março, com um DVD bonus, e sairá no Brasil agora no começo de abril, pela Hellion. Antes de voltar ao Brasil para a divulgação do CD, tocaremos na Holanda e no segundo semestre do ano estaremos em turnê novamente.
Você pretende realizar workshops?
Tudo depende da proposta. Eu fui professor de canto no Brasil e caso haja uma demanda e interesse, possuo material didático bastante bom e gostaria de fazê-lo novamente.
Os outros integrantes da banda colocam elementos da música francesa no trabalho do Adagio? Quais são as influências?
Milhares de influências, mas não percebo nada referente à música francesa, de forma direta. Inconscientemente deve haver, mas...
Houve um momento em sua carreira em que você pensou em desistir. Que conselhos você daria para quem decide seguir em um trabalho, digamos assim, alternativo, como a música?
É muito difícil falar sobre os outros, quando saber sobre nós mesmos é tão difícil... Eu acho que quem quer fazer música tem que estar apto a pagar o preço que é alto. Ficar longe de casa, da família, das suas pessoas, ter uma disciplina fortíssima... Tem muitas coisas duras que vêm junto ao lado bom. Mas, eu acho que quem permanece na música realmente o faz por não conseguir viver sem. É uma questão de vocação... Essa pergunta é muito difícil. Acho que a vida mostra o caminho, seu coração também.
Nós do blog temos uma brincadeira que é o Top 5. Os temas são variados e a intenção não é justificar tecnicamente o que é melhor que o que, mas apenas listar nossos favoritos. Como não poderia deixar de fazer... qual o seu Top 5 vocalistas?
Steve Perry (Journey), David Coverdale (Whitesnake), Glenn Hughes, Ronnie James Dio (Dio) e Rob Halford (Judas Priest)...
E quais são seus discos de estimação?
Sou um comprador de discos COMPULSIVO... Poderia ficar aqui mil anos falando sobre discos e bandas... Meus discos de estimação são TODOS eles... Sorry.
Gostaria novamente de agradecer em nome da equipe do Cafezinho com Cigarro, foi um prazer poder contar com sua participação. Fica a espera para que o “Dominate” chegue às lojas no Brasil, muito sucesso!
Queria convidar todos a conhecer a música do Adagio e meu site. Queria falar que pra mim é uma grande conquista estar podendo fazer parte de uma banda de heavy metal de ponta, internacional e espero estar somente abrindo a porta para que vários outros jovens cantores e músicos brasileiros possam despontar pelos palcos do mundo afora.
Dominaaaaaaaate!!! Espero que possamos ir ao Brasil em breve.

Adagio Official Website - www.adagio-online.com
Hellion Records - www.hellion.com.br
Gus Monsanto Official Website - www.gusmonsanto.com

3 Comments:

At 1:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Muito boa a entrevista! Não sabia como ele foi chamado para o Adagio, agora sei! hehehe!

Agora só resta esperar por uma Tour no Nordeste!

 
At 11:04 AM, Blogger flavia said...

baiano, pauta fria é aquela que fala sobre alguma coisa atemporal. que não é 'quente', ta ligado?!

ah, e benzina tá mandando dizer que o vinho matinal faz bem para as sinapses!

hahahahaha
;*

 
At 3:41 AM, Anonymous Anônimo said...

Really amazing! Useful information. All the best.
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