04 abril, 2006

Cello-Rock

A Finlândia é um país com uma educação musical muito forte, é matéria obrigatória no currículo escolar.. já a partir do ensino básico. Desde a década de 50 que os governos vêem se empenhando em construir escolas de música, as quais hoje são 95 para sua população de 5 milhões de habitantes. Dessas a mais importante é a Sibelius Academy, que formou muitos dos maestros das mais importantes orquestras do mundo, além da ex-vocalista do Nightwish, Tarja Turunen. E foi em Sibelius onde Eicca Toppinen, Max Lilja, Antero Manninen e Paavo Lötjönen se conheceram para em 1993 se juntar em torno de duas paixões em comum, música clássica e heavy metal, e formar o Apocalyptica.


Os quatro violoncelistas de Helsinque, que começaram por brincadeira a tocar músicas de bandas de rock, lançaram em 1996 seu primeiro álbum intitulado “Plays Metallica by Four Cellos”, que como o nome sugere, é a transcrição para um quarteto de violoncelos de oito músicas do Metallica. O que de cara surpreende no disco é o track list porque, ao contrário do que normalmente se esperaria de um grupo de concertistas clássicos, eles escolheram músicas das mais pesadas como “Master of Puppets”, “Enter The Sandman” e “Sad But True”. Outro ponto importante a se notar é que o Apocalyptica já começou deixando claro que a intenção não era a de fazer versões “eruditas” para músicas de rock, mas a de mostrar que a atitude rock’n’roll independe do instrumento que você toca.

No primeiro trabalho, apesar de demonstrar muita habilidade na difícil execução das músicas, o grupo não precisou muito de criatividade. Já em “Inquisition Symphony”, lançado em 1998, os covers já estão mais elaborados e ainda três canções compostas por Eicca Toppinen apresentam o início da formação do estilo da banda. Destaques para a maravilhosa versão de “Nothing Else Matters”, que na minha opinião a banda conseguiu mais emoção até do que no “S&M” do Metallica, para a faixa título do álbum, original do Sepultura e para “Toreador”, que das músicas próprias é a que demonstra maior qualidade de composição.. maior evolução... iniciando com dois violoncelos solo na mesma velocidade dando uma idéia de sobreposição de sons, e na música inteira os outros dois base fazem um som pesado e sombrio.

No ano 2000 Antero Manninem deixa o Apocalyptica para se dedicar a Orquestra Filarmônica de Helsinque e é substituído Perttu Kivilaakso, que já era integrante da mesma orquestra. Essa é a fase na qual o quarteto decide deixar um pouco de lado os covers que o consagrou e lança o “Cult”, predominando composições de Eicca. O som da banda se mostra próprio, inovam usando distorções nos violoncelos e é notória a óbvia influência da música erudita, além de um toque de gótico. O disco também conta com quatro versões, entre elas uma original reescrita de “Hall Of The Mountain King” do compositor norueguês do século XIX Edvard Grieg, sempre presente no repertório dos shows.

Em 2003 saiu o “Reflections”, que eu considero o melhor de todos os álbuns, totalmente composto por Eicca e Petru, um som próprio e intitulado por eles mesmos de “cello-rock”. Já sem Max Lilja, o agora trio Apocalyptica conta com a participação de Dave Lombardo, lendário baterista do Slayer. A banda desenvolve definitivamente o seu estilo diferenciado.. violoncelos distorcidos fazem um efeito diferente da habitual guitarra do rock’n’roll, essencialmente sentimental e em alguns momentos parece ser um disco de gothic metal. Uma das músicas, “Path” tem na versão do single a voz de Sandra Nasic, da banda alemã Guano Apes. O mais novo trabalho, o “Apocalyptica” de 2005 veio na mesma proposta e conta com as participações de Lauri Ylönen do The Rasmus e Ville Valo do H.I.M nos vocais.

por Felipe “Baiano” Batista (felipe.batista@gmail.com)

7 Comments:

At 1:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Eu ouvi 2 CDs e achei o som dessa banda realmente diferente [e massa]; apesar de serem somente os cellos (não ouvi os últimos cds com a bateria) não dá a sensação de que esteja faltando alguma coisa, como os vocais, por exemplo. Pelo contrário, a música fica completa e, a meu ver, sem espaço pra mais nada.

Vale a pena ouvir, mesmo que vc não goste de heavy metal ou de rock, pq não fica uma coisa pesada devido ao toque erudito do violoncelo. "Violoncelos distorcidos fazem um efeito diferente da habitual guitarra do rock’n’roll", como diz o texto. Se não quiser pegar um álbum inteiro, eu sugiro que vc baixe "Nothing Else Matters" [Eu achei lindo por si só e nem ouvi como "versão", afinal eu não conhecia o original]. Depois disso, aí sim talvez vc queira baixar um álbum ;)


E sim, autor.. pra tu nao dizer que eu só falo bem os textos de rick....
O texto ficou muito bom, suscinto e completo (paradoxo?), e clara a sua preocupação de introduzir e explicar aquilo que nós, leitores do blog, mt mais que provavelmente não conhecemos. :*

 
At 3:01 PM, Anonymous Anônimo said...

Interessante sua observação de que "...não dá a sensação de que esteja faltando alguma coisa, como os vocais, por exemplo. Pelo contrário, a música fica completa e, a meu ver, sem espaço pra mais nada." porque realmente nos primeiros CD´s, que são somente os violoncelos, sempre um deles faz a linha vocal.

 
At 5:58 PM, Blogger Alex de Large said...

Finalmente deu as caras mostrando uma de suas paixoes. Eh massa ver o Baiano falando de musica. Principalmente, Metal. Quero ver o que Angra eh capaz viu!?!? ;) Ah, ficou massa!!! Foi um otimo introdutorio, como taci falou, pra nós que nao sabemos nada do assunto. Ae

 
At 9:02 AM, Anonymous Anônimo said...

se eu nao conhecesse o romance, eu ja teria colocado esses dizeres de rick no "não sou legal...", no topico das agressivações reais! um belo exemplo! :D

 
At 11:24 AM, Blogger flavia said...

baiano, meu querido [isso vale para os outros membros desse blog], você, alguma vez na vida, pensou em ser jornalista?
vocês têm o feeling da coisa, a relação com as palavras, com a construção, pricipalmente para para pautas mais frias, com tempo pra vocês aperfeiçoarem o texto. adoro todos!

mas se nunca pensou no que eu disse, esqueça. a profissão é um saco, paga mal e trabalha muito [ó céus que desilusão a minha].

;)

 
At 3:41 AM, Anonymous Anônimo said...

Great site loved it alot, will come back and visit again.
»

 
At 11:05 AM, Anonymous Anônimo said...

ontem fui no santa isabel ver a "Mostra Brasileira de Dança", que por algum motivo leva grupos de outros países pra se apresentar. Estava eu assistindo a um lindo ballet contemporâneo de um grupo de Portugal quando, de repente, reconheço uma certa música. Qual era, qual era?????? Nothing Else Matters, nos cellos de Apocalyptica! Fiquei tão emocionada.. e morrendo de vontade que meu namorado tivesse ali cmg pra ver aquilo.. foi lindo!!

 

Postar um comentário

<< Home